Uma análise simbólica da Mulher Maravilha, nova embaixadora da ONU.
“As novas mulheres libertas e fortalecidas dando apoio umas às outras (na Paradise Island., Ilha Paraíso) desenvolveram um enorme poder físico e mental. (…) um grande movimento agora em curso –o crescimento do poder das mulheres”, William Moulton Marston, em 1941, sobre o subtexto da origem da Mulher Maravilha e sobre a história de seu quadrinho.
A década era a de 1940, e os super-heróis começavam a conquistar seu espaço, entre eles dois dos mais famosos: Superman (1938) e Batman (1939). Em uma ambientação construída em cima de cidades fictícias surge o primeiro ícone feminino do mundo das HQs: Wonder Woman (Mulher Maravilha). Criada por William Mouton Marston a personagem viria a se tornar parte importante do que anos depois fora chamada de “A era de ouro dos quadrinhos”.
Marston era Ph.D. em psicologia e um estudioso do movimento feminista e em 1941 junto à solidificação desse ele nos apresenta Diana, guerreira amazona: mulher forte, corajosa e livre que estabelece por sua personalidade a autoconfiança e consolida o padrão da feminilidade na queda dos paradigmas de que a mulher é sexo frágil, como o que é encontrado nas histórias das amazonas.
Mesmo passando por transformações ao longo dos 75 anos da personagem toda sua essência ainda está intacta. Podemos ressaltar que essa sobrevivência, os quadrinhos entraram em declínio após o fim da segunda guerra mundial causando a reformulação e até mesmo aposentadoria de alguns heróis, somente é possível devido ao fato de Marston encontrar na realidade de sua vida a fonte da ficção para solidificar aquela que é até hoje a heroína de maior prestigio do universo dos quadrinhos.
No âmbito social, Marston tenta trazer à tona o fato e a comprovação de que meninas de todo o mundo podem e devem lutar pelo que acreditam e almejam e, assim, estabelecer suas conquistas em determinados espaços que até então eram dominados por homens. E para a criação dessa narrativa ele buscou nos movimentos que lutavam pela libertação das mulheres as influências necessárias para a construção do cenário que tornaria isso possível.
Marston que era casado com Elizabeth Holloway, advogada, apaixonou-se por Olive Byrne enquanto ainda era seu professor. Indo contra as convenções morais da época os três dividiram um relacionamento, que hoje chamaríamos de poli amor, por 22 anos. Em Holloway e Byrne, Marston encontrou a essência da personalidade da heroína. Ok!
Olive ao unir-se ao casal optou por não usar aliança, já que para a sociedade aquele relacionamento não existia. No lugar do anel dourado ela usava dois braceletes que eram símbolos daquela união. Na personagem, os braceletes, podem funcionar tanto para defesa quanto para o ataque. Sendo algo inquebrável, de acordo com a própria Diana, os braceletes contêm a força de seu poder.
Detector de Mentiras.
Marston, que possuía um estranho fascínio em descobrir os segredos das pessoas, é o inventor do polígrafo, popularmente conhecido como detector de mentiras. E sua obsessão e invenção tomam forma no “laço da verdade” usado pela heroína quando os vilões tendem a não cooperar com seu propósito.
Adepto de Bondage a prática aparece nas entrelinhas das histórias da Mulher Maravilha. Sempre que capturada, Diana era amarrada, acorrentada ou colocada dentro de gaiolas ou celas. E quando indagado sobre o fato dela acabar sempre assim em suas histórias, Marston alegou que “as pessoas gostavam de ser amarradas e acorrentadas”.
Os signos e os índices que constroem a personalidade, caráter e visual de Diana, a Mulher Maravilha, são muito sutis. É necessário conhecer sua história desde o processo que originou sua criação, ou seja, conhecer a história da vida de seu criador, daqueles que faziam parte de seu cotidiano e interesses em sua área de estudo. Por outro lado, os artefatos que compõem a “armadura” da Mulher Maravilha no combate à opressão são facilmente reconhecidos e ligados à personagem.
Simplificação: índices, ícones e signos ligados aos objetos e ideais.
A história e ambientação: feminismo, movimento do sufrágio e de controle conceptivos, mitologia das amazonas.
A forma como a Mulher Maravilha era mantida quando capturada: prática de Bondage.
A personalidade da personagem: suas duas esposas Elisabeth Holloway e Olive Byrnes.
A força da personagem: construção de caráter social na libertação de ideais e empoderamento das mulheres ao redor do mundo.
Os braceletes: adornos que Byrnes usava no lugar da aliança.
Laço da verdade: a curiosidade de Marston em detrimento dos segredos das outras pessoas.
A roupa: símbolo da liberdade, patriotismo americano.
Artigo originalmente publicado em Catraca Livre